As recentes movimentações partidárias em
Uberlândia são cenários férteis para
reflexões políticas. Com características
oligárquicas, a história do poder local passa,
necessariamente, pela baixa mobilidade política por aqui
dominante desde as primeiras décadas do século XX,
quando se organiza a cidade em torno de dois grupos: os cocões,
ligados à UDN (Virgílio Rodrigues da Cunha, Cotta
Pacheco, Constantino Rodrigues da Cunha, Adolfo Fonseca e Silva,
Custódio da Costa Pereira, Marques Povoa, Alexandre de
Oliveira Marquez, Antônio Crescêncio, Joaquim Fonseca,
Nicomedes Alves dos Santos, Carmo Giffoni e Rondon Pacheco) e os
coiós, ligados ao PSD (Olímpio de Freitas Costa,
cel. Antônio Alves Pereira, Marcos de Freitas Costa, João
Naves de Ávila, Abelardo Penna, Fernando Vilela, Paes Leme,
Rivalino Pereira e Renato de Freitas).
Com o golpe militar de 1964, Uberlândia ganha projeção
nacional, principalmente a partir da proximidade destacada de Rondon
Pacheco junto aos militares. No contexto local, Renato de Freitas
assume a Prefeitura (67-69) e será sucedido da seguinte forma:
Virgílio Galassi (70-73); Renato de Freitas (74-77); Virgilio
Galassi (78-82); Zaire Resende (83-88); Virgilio Galassi (89-92);
Paulo Ferolla (93-98); Virgilio Galassi (97-2000); Zaire Resende
(2001-2004); Odelmo Leão (2005-2012).
A questão interessante é a seguinte: todos os prefeitos
de Uberlândia, sem exceção, estão ligados
a um desses dois grupos dominantes: cocão/UDN ou coió/PSD.
Certamente, o maior distanciamento fica por conta de Zaire Resende.
Responsável por apresentar uma opção política
ao Município de Uberlândia, Zaire é neto do cel.
Thomaz Ferreira de Rezende e recebeu apoio de parte dos coiós
descontentes com os militares. Líder democrático,
venceu adversários históricos como Renato de Freitas e
Aldorando Dias de Souza. Vale lembrar que o candidato de Virgílio
Galassi (cocão), derrotado por Zaire em 2000, era Luiz
Humberto Carneiro (cocão), que agora é o candidato de
Odelmo Leão (cocão).
O que há de novo e empolgante é que nessas eleições
de 2012 o pêndulo de forças desloca-se para um espaço
alternativo de poder no qual as oligarquias locais não exercem
domínio. A pré-candidatura articulada pelo PT, unido em
torno de Gilmar Machado, já seria o suficiente para essa
constatação. Mas há, ainda, um fator
potencializador que, se confirmado, significaria a mais ousada
proposta de ruptura oligárquica: a possibilidade, ainda
sussurrada, de que o vice prefeito de Gilmar seja do PDT. A força
política desse grupo mostra-se evidente. Com 108
pré-candidatos a vereadores, sob a coordenação
do Ten. Lucio e articulados com PPL, de Jerônima Carlesso, o
PSDC, de Márcio Nobre, e PMN de José Manoel Pacheco, o
grupo deu provas da capacidade de mobilização ao reunir
cerca de quatro mil pessoas no Center Convention no último dia
14 para declarar apoio ao pré candidato petista.
A decisão sobre a vaga de vice, é notório,
compete apenas ao candidato majoritário. Porém, a
sinalização alternativa PT/PDT, até pouco tempo
sequer cogitada, mostra enfraquecimento das oligarquias locais.
Independentemente do desfecho, o avanço é evidente:
ponto para a República.
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